Os sintomas motores da doença de Parkinson, como o tremor, a rigidez motora e alteração na marcha, são bem conhecidos. No entanto, no paralelo, há uma série de sintomas não-motores, como alterações cognitivas e do sono, depressão e ansiedade. Cada um deles afeta o paciente de uma maneira e em uma intensidade. Todos, porém, merecem igual atenção.
A reabilitação cognitiva, utilizada no tratamento do Parkinson, traz diversos benefícios – não só cognitivos. Recentemente, uma pesquisa realizada por cientistas da University of Sydney’s Brain and Mind Centre e Royal Prince Alfred Hospital, ambos na Austrália, mostrou que o treinamento cognitivo reduz significativamente episódios de congelamento da marcha, além de reduzir a sonolência diurna.
O congelamento da marcha, sintoma que atinge 1/3 dos parkinsonianos, é uma súbita e imprevisível parada e incapacidade de recomeçar movimentos ritmados e repetidos. Na maioria dos casos, ele acontece quando a pessoa está caminhando e, repentinamente, tenta mudar de direção, chega a um obstáculo ou precisa passar por um espaço mais estreito. O congelamento provoca a sensação de estar colado ao chão, paralisado. Ele também pode afetar os movimentos dos braços e até a fala.
Abaixo, conheça a reabilitação cognitiva no tratamento do Parkinson, no texto da neuropsicóloga Fernanda M. Colucci Fonoff.
“As principais perdas cognitivas são: bradifrenia (lentidão de pensamento), declínio de atenção e concentração, alteração visuoconstrutiva (dificuldade para desenhar um objeto, por exemplo), declínio da função executiva (capacidade de planejar e executar tarefas) e alteração da memória. Neste cenário, os pacientes têm dificuldade para iniciar respostas, gerar estratégias, monitorar ou regular o comportamento para alcançar melhor desempenho na tarefa.
A descrição acima parece tornar complicado apenas trabalhos complexos e extensos. Mas é justamente aí que está o desafio. Estas dificuldades cognitivas se apresentam em situações simples e corriqueiras do dia-a-dia. E, o parkinsoniano se vê de mãos atadas para preparar uma refeição, trocar a própria roupa ou se organizar para sair de casa. A sensação de incapacidade é paralisante.
Em consultório, fazemos uma série de trabalhos, que se mostram eficientes e importantes para os pacientes. Eles são, para o cérebro, tão poderosos quanto a atividade física é para os músculos. O ideal é que um ou dois sejam praticados por alguns minutos todos os dias. Eles são:
Para disfunção executiva:
- Exercícios de lógica matemática (sequência lógica. Ex: 2, 4, 6… ou 2, 4, 8, 16…).
- Cálculos mentais (somar de 4 em 4 começando do 1. Exemplo: 1-5-9-13… ; ou subtrair de 3 em 3, começando do 40. Exemplo: 40-37-34-31…).
- Fluência verbal: jogar STOP. Neste jogo, os participantes escolhem uma letra do alfabeto e completam uma lista de itens, como nome próprio, fruta, animal, cidade, filme e esporte, com a letra escolhida.
Para alteração da atenção:
- Executar duas tarefas ao mesmo tempo (Ex. Falar tipos de animais e frutas alternadamente: cachorro-laranja; gato-abacaxi…).
- Jogo de caça-palavras.
- Jogo com cartas (rouba monte, mico…)
Para alteração visuoconstrutiva:
- Cópia de desenhos simples (quadrado, losango, triângulo e círculo)
- Cópia de desenhos complexos (cubo, estrela)
Alteração de memória:
- Treino de memorizar e repetir um número de palavras comuns (início com 5 palavras)
- Treino de memorizar e repetir o número de telefone de 5 ou mais familiares
- Jogo de memória.
Conheça aqui tratamentos para a doença de Parkinson.
Atualizado em 29/01/2019.