Cuidar de um paciente de Parkinson é um grande desafio. Ele fica ainda maior quando essa pessoa é sua mãe. Há dias tranquilos e serenos, mas há outros tantos longos, tensos, cheios de medos e dúvidas. A cearense Eveliny Coelho, 62 anos, sabe exatamente como são esses momentos. E, com todo o carinho de uma filha, ela os enfrenta com uma rotina organizada e cuidados em primeiro plano. No paralelo, Eveliny mostra como é possível encher a casa de flores e cores, cantar e pintar e ter momentos felizes ao lado de sua mãe Cleide, 87 anos. Leia essa história tocante e cheia de afeto.
“Cuido de minha mãe, paciente de Parkinson há 20 anos. Nos últimos 7 anos, o quadro se agravou com uma tetraplegia. Ainda assim, existe sempre um jeitinho para sermos felizes. Com minha mãe, promovo passeios, levo-a a shoppings e a restaurantes.
Todas as manhãs, nós descemos no prédio para o banho de sol e, à noite, nos reunimos no jardim com pessoas amigas. Quando eu estou viajando, nossa vizinha Daise não deixa o programa ser cancelado. Ela vem para um café da tarde e desce com minha mãe à noite. Uma ajuda maravilhosa!
Nas manhãs de domingo, levo minha mãe a uma pracinha próxima para tomarmos sol e água de coco. Ela adora o passeio! Também cantamos muito. Quase todos os dias. Procuro fazer muitas reuniões em casa para quebrar a rotina e deixá-la mais alegre. Convido minhas amigas e as dela também para um café no final de tarde.
Para manter o astral, procuro botar um pouco de cor no apartamento. Rosas artificiais, música e, sempre que posso, compro flores naturais e folhagens. Juntas, montamos buquês para colocarmos nos vasos. Gosto de pintar rosas e, enquanto pinto, trago minha mãe para perto de mim, assim ela participa dando opinião. Também criei umas regrinhas para fazê-la se sentir bem. Camisola é só para dormir; durante o dia, ela deve vestir uma roupa fresca e confortável. No fim da tarde, após o banho, vale colocar uma roupa mais arrumadinha, brincos e batom, sempre combinando.
Certa vez, ela se queixou da sua situação e eu falei que entendia que não era boa e que o sofrimento era meu também. Mas mostrei a ela como também tínhamos motivos para ser feliz mesmo em meio a esse calvário. Listei várias coisas para agradecermos a Deus. Dentre elas, exaltei as maravilhosas cuidadoras que a acompanham e o amor e o carinho de filhos, netos e agora de uma bisneta. Embora meus irmãos não consigam colaborar muito, por razões pessoais, eles a amam demais.
Aos pacientes de Parkinson, aconselho a tomar os medicamentos corretamente, fazer atividades ao ar livre, procurar listar as coisas boas que vocês têm hoje e as que já tiveram no passado. Lembrem-se sempre que todas as pessoas têm motivos para ser felizes ou infelizes, então a felicidade é uma questão de escolha. Fiquem perto de pessoas que trazem alegria; boas companhias ajudam bastante.
“Sorrir é o primeiro remédio em qualquer situação.”
Cuidar de uma pessoa com uma doença neurodegenerativa não é fácil, principalmente quando se trata de sua mãe. O exercício da fé tem se tornado mais firme a cada dia. É assim que renovo minhas forças. A outros cuidadores, sugiro que tenham paciência e se cuidem também. Precisamos estar bem para transmitirmos coisas boas.”
Leia aqui o texto Quem cuida merece ser cuidado também.