Quadros de depressão e ansiedade são extremamente comuns em pacientes com doenças crônicas. Em parkinsonianos, os transtornos mentais são ainda mais recorrentes. Estima-se que a depressão, isoladamente, é a alteração não-motora mais comum na doença de Parkinson, presente em quase 50% dos pacientes. Quando não tratada, ela chega a intensificar os outros sintomas da doença, além de comprometer a capacidade cognitiva e, consequentemente, piorar a qualidade de vida do parkinsoniano.
Mas a depressão pode ser tratada. Como explica a neurologista Rachel Dolhun, em um texto publicado no site da The Michael J. Fox Foundation, ‘assim como a levodopa ajuda pacientes de Parkinson a se movimentar melhor, antidepressivos e/ou terapia podem ajudar uma pessoa deprimida a funcionar melhor. Se a depressão na doença de Parkinson não for tratada de forma adequada, o tratamento dos demais sintomas torna-se difícil, e a prática regular de exercícios (fundamental para parkinsonianos) pode ser impossível’.
Rachel Dolhun, que ocupa o cargo de vice-presidente da fundação, fala mais: ‘Infelizmente, nossa sociedade coloca um estigma na depressão e outras doenças mentais, o que dificulta a busca por ajuda. Mas lembre-se que a depressão é um sintoma do Parkinson e uma doença também, não uma fraqueza de caráter.’
A seguir, a neuropsicóloga Fernanda M. Colucci Fonoff explica as causas, os sintomas e os tratamentos para a depressão vista na doença de Parkinson.
1) Depressão é muito comum em pacientes de Parkinson.
Embora muitos pacientes de Parkinson fiquem tristes, a depressão que os acomete é provocada por alterações químicas no cérebro, que ocorrem simultaneamente à doença. Isto está comprovado porque há evidências de que a depressão, em alguns casos, precede as manifestações motoras da doença; pela alta prevalência de casos de depressão em pacientes de Parkinson quando comparado à incidência em pacientes de outras doenças crônicas e, por fim, pela falta de correlação entre o quadro depressivo e a gravidade dos sintomas do Parkinson. A depressão pode, até certo ponto, ser considerada parte da doença de Parkinson. O cérebro do parkinsoniano possui alterações nas áreas que produzem dopamina, serotonina e noradrenalina, substâncias diretamente relacionadas ao humor, à energia, ao bem-estar.
2) A depressão é frequentemente ignorada em pacientes com Parkinson.
Diagnosticar a depressão em pacientes de Parkinson pode ser um grande desafio por ela apresentar sintomas diferentes da depressão idiopática, ou seja, a clássica. Na depressão clássica, o paciente se sente culpado, chora, apresenta comportamento de desânimo, ruminação negativa, ideação punitiva e baixa autoestima. Já em pacientes de Parkinson, a depressão se manifesta de outra forma. Ela acaba murchando o paciente. É como se a central de energia da pessoa fosse desligada. A queda de dopamina e de outros neurotransmissores no cérebro faz com que vergonha, medo, desânimo e apatia se instalem. Há também uma enorme falta de vontade de produzir. Tudo isso, muitas vezes, é visto como preguiça ou cansaço – e não como depressão.
3) Os sintomas de depressão são facilmente confundidos com os sintomas do Parkinson.
Os sintomas da doença de Parkinson, tanto motores quanto não-motores, muitas vezes se assemelham aos da depressão. Isto faz com que o parkinsoniano passe meses e até anos com o quadro de depressão não percebido e, consequentemente, não tratado. O Parkinson provoca fadiga, distúrbio da sexualidade, empobrecimento da atenção, tensão muscular, alterações gastrointestinais, alteração do sono, lentidão cognitiva e motora. A depressão na doença de Parkinson expressa-se pelo humor baixo ou triste, diminuição da capacidade de aproveitar atividades agradáveis, bem como a perda de interesse.
4) A depressão pode comprometer a função cognitiva.
Embora a relação não seja totalmente esclarecida, os especialistas já notaram que a depressão na doença de Parkinson leva os pacientes a se queixarem muito dos sintomas motores e apresentarem maior comprometimento para realizar tarefas que exigem memória, formação de conceito e fluência verbal. Por outro lado, após o tratamento da depressão, os pacientes recuperam a qualidade de vida e têm os sintomas em geral mais controlados.
5) A depressão pode comprometer a qualidade de vida.
As principais consequências da depressão na doença de Parkinson estão diretamente associadas ao prejuízo cognitivo e funcional do paciente nas atividades do dia-a-dia. Isto, obviamente, reflete de forma negativa na qualidade de vida do paciente, assim como sobrecarrega emocionalmente o cuidador. No entanto, a boa notícia é que ao tratar a depressão, de forma consistente e adequada, há melhora na percepção dos sintomas motores e não-motores.
6) Existe tratamento para a depressão.
Após o desafio inicial do diagnóstico, inicia-se o tratamento da depressão. Na maioria dos casos, o tratamento mais eficiente é a combinação de medicamentos antidepressivos e terapia. Antes, porém, de iniciar o uso de qualquer medicação, o médico especialista precisa avaliar qual é a melhor opção de combinação dos medicamentos antidepressivos e antiparkinsonianos. Muitas vezes, é preciso tempo e paciência para ajustar as medicações e chegar ao ponto desejado. Mas é importante não desistir. Além disso, os médicos são unânimes em afirmar a importância de praticar atividade física sempre. É fato comprovado que ela aumenta a disposição, melhora o humor e ajuda no combate à depressão.
Atualizado em 19/10/2022.